Sobre ZOOLÓGICOS
ZOOLÓGICOS SÃO PRISÕES DE ANIMAIS INOCENTES.
Artigos, Entrevistas, Notícias…
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Entrevista com Sônia T. Felipe
Até que ponto os Zoos realmente ajudam os animais?
Sônia T. Felipe – Os zoos são centros de confinamento completo de animais.
Só por essa sua característica podemos ver que não ajudam em nada os animais ali confinados.
Não há animal que possa estar bem a seu próprio modo enclausurado num espaço artificialmente construído por humanos para detê-lo lá.
Eles realmente auxiliam na reprodução e preservação de espécies raras?
Sônia T. Felipe – O que os zoos fazem é procurar a reprodução biológica de espécies ameaçadas de extinção. Mas, quando falamos em preservar espécies não pensamos que uma espécie seja constituída apenas por sua bagagem genética. Cada espécie animal precisa de um espírito específico, que permita a preservação daquele tipo de vida de forma autônoma. Isso os zoos não podem fazer. No máximo, o que eles preservam, é o banco genético.
Ao serem mantidos no cativeiro por tempo muito longo, refiro-me aos indivíduos da primeira geração posta em confinamento, os animais apagam pouco a pouco a memória que constituía seu “espírito” específico. Se duas ou três gerações são mantidas nesse cativeiro, não resta conhecimento algum que permita aos jovens nascidos em confinamento saber interagir no espaço natural e social que seria próprio de sua espécie de vida.
Guardamos, assim, o patrimônio genético, que é matéria biológica. Matamos o patrimônio genuinamente “animal” dessas espécies. Temos apenas “organismos” destituídos de “mente” específica. Por esse motivo, reproduzir animais em zoos não garante que sua espécie de vida seja preservada. Insisto: manter um corpo funcionando não é tudo quando se trata da riqueza espiritual que cada espécie viva representa.
Quais são as consequências para o animal aprisionado em um ambiente que não se assemelha ao seu habitat natural?
Sônia T. Felipe – Se for mantido para o resto de sua vida nesse cativeiro, perderá sua alma. Se for solto depois de algum tempo num ambiente estranho, terá de refazer seu aprendizado para poder sobreviver. Se seus descendentes não tiverem a oportunidade de aprender com ele/ela a sobreviver com os recursos naturais e sociais próprios de sua espécie, de nada adiantará ter preservado apenas sua bagagem genética.
Ao contrário do que costuma ser afirmado ainda por muita gente, a mente dos animais, analogamente à nossa, se constitui na liberdade física que o animal exerce de mover-se para autoprover-se num ambiente onde os limites desse movimento não são impostos seguindo um padrão que interessa aos propósitos humanos. A inteligência dos animais confinados se esvai assim que eles não podem mais usá-la para se autoproverem e proverem os seus.
O debate sobre a questão ética envolvendo zoos está crescendo no Brasil?
Sônia T. Felipe – Acho sinceramente que sequer começou a ser feito com rigor. Os zoos são uma invenção dos invasores, especialmente os europeus, que sequestravam os animais das regiões onde impunham seu domínio tirânico para expô-los ao olhar dos curiosos nos grandes centros urbanos europeus. Hoje, esse costume está completamente superado, tanto do ponto de vista científico quanto ético. Nada aprendemos sobre a natureza de um animal quando o vemos por detrás de grades de ferro, isolado, infeliz e distante do ambiente que seria próprio ao seu caráter.
Com o avanço tecnológico e com o aprimoramento ético dos cientistas que estudam os animais, já não faz sentido algum tirar o animal de seu ambiente, colocá-lo em uma jaula e ficar observando seus gestos e atos. Nada disso faz sentido quando queremos saber algo da mente de um animal. Os melhores estudos animais são feitos in loco. Os maiores etólogos convivem por duas ou três décadas com os animais no ambiente natural e social deles, não nos ambientes humanos. Tudo o que se escreveu até hoje sobre os animais, com observação deles em jaulas, gaiolas e cercados não diz nada do que se passa na mente deles, diz-nos apenas o que se passa na mente bronca dos humanos que assim procedem.
Os zoos só fariam sentido, hoje, se transformados em hospitais de custódia para animais feridos ou ameaçados, que poderiam ser protegidos por tempo determinado, até que pudessem ser devolvidos ao seu ambiente natural. Mas, nesse caso, nenhum zoo deveria ser aberto à visitação pública, do mesmo modo que hospitais e unidades de tratamento intensivo humanos não são centros de exposição ou visitação públicas. Se temos curiosidade para saber como uma determinada espécie animal se move na natureza, melhor ver os filmes feitos por cientistas que abandonaram a vida nas cidades para dedicarem-se integralmente ao estudo da vida animal.
Filmes são hoje um substitutivo mais que eficiente para os zoos. É tempo de criarmos “zoos virtuais”, usando as filmagens feitas por milhares de cientistas e cinegrafistas ao redor do planeta. Com essas filmagens podemos ver cada espécie, do modo como copula ao modo como nasce e morre, passando por todos os eventos que constituem sua vida propriamente dita.
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*Sônia T. Felipe – Doutora em Teoria Política e Filosofia Moral, Co-fundadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Violência; voluntária do Centro de Direitos Humanos da Grande Florianópolis (1997-2001); Co-autora de, A violência das mortes por decreto; O corpo violentado; Justiça como Eqüidade, Por uma questão de princípios. Coordena o Laboratório de Ética Prática, do Departamento de Filosofia da UFSC, professora e pesquisadora dos Programas de graduação e pós-graduação em Filosofia, e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas, da UFSC, autora de dezenas de artigos em coletâneas nacionais e internacionais sobre ética animal, Membro Permanente do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e do Bioethics Institute da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento, Lisboa.
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Fonte: http://www.terra.com.br/noticias/ciencia/infograficos/zoos/zoos-02.htm
ARTIGOS
Passeio ao zoológico, sob outra ótica , sob outra ética
Marcela Teixeira Godoy*
“Quando se trata de como os humanos exploram os animais, o reconhecimento de seus direitos requer abolição, não reforma (…) a verdade dos direitos animais requer jaulas vazias, não jaulas mais espaçosas”. (Tom Regan, em Jaulas Vazias)
Como Bióloga e Educadora, sempre acreditei nos Zoológicos como ferramenta deseducativa.
Meu repúdio a esse tipo de atividade, fez com que eu me afastasse, durante anos, de uma visita a esses verdadeiros redutos de infelicidade animal.
Tive a oportunidade de fazer uma visita técnica a alguns desses redutos recentemente (a menos de uma semana, para ser mais exata).
Assim como a aquários, oceanários, serpentários e afins.
Foi um tour dos horrores, considerando toda minha aversão a qualquer forma de confinamento animal para a satisfação de egos humanos.
Mas, com o passar do tempo, minha aversão que antes era representada pela negação, foi substituída pela coragem de encarar os fatos como eles são: os animais sofrem.
Ao nosso lado. Todos os dias. E nos fazem a todo o tempo, um apelo silencioso.
Não é possível ignorar essa realidade pelos melindres de não querer sofrer, de não querer olhar.
O sofrimento deles é infinitamente maior.
Nessa visita técnica, foram incluídos locais que os visitantes “comuns” não tem acesso, como cozinhas, biotérios, áreas de cuidados veterinários e etc.
Fui convidada por uma colega de trabalho, a conduzir com ela (que também não é fã de Zoológicos), a visita (sou professora universitária) e temos uma turma em comum, a qual nos acompanhou.
A curiosidade de saber a quantas anda a exploração legitimada dos animais que tiveram sua liberdade seqUestrada, na prática, foi um dos fatores que me levou a decidir ir.
Outro fator importante foi a certeza de ter minhas concepções biocêntricas renovadas.
Mesmo à custa do meu sofrimento. Banal, como já mencionei, perto do sofrimento de inúmeros animais que lá encontrei.
Antes de “ver” os animais e durante as “visitas”, em todos os locais, há uma explanação teórica/logística por parte dos monitores.
Parece que são treinados todos no mesmo lugar, pois as frases feitas a respeito do bem-estarismo animal são quase que idênticas.
Tais explanações me remetiam inevitavelmente ao “Ensaio sobre a Cegueira” de Saramago.
Pensava: as pessoas estão mesmo acreditando nisso? (Acho que vou escrever um “Ensaio sobre a surdez”).
Outro pensamento recorrente: na ocasião de uma palestra do Seminário da Agenda 21, no Paraná, em 2009, a filósofa Sônia Felipe mencionou a seguinte frase: “bicho não é vitrine de shopping”.
Considerei extremamente relevante. Me fez pensar além.
Zoológicos com objetivos de recuperação e reintrodução de espécies no meio, sem exposição ao público, que respeitam o que o animal nasceu, de fato, para ser, merecem nosso reconhecimento.
Não são, infelizmente a maioria deles.
A maioria ainda se baseia em concepções especistas e antropocêntricas para justificar sua existência e conseqüente sofrimento animal.
Algumas falácias são facilmente identificadas no discurso daqueles que defendem o Zoológico “vitrine” como “ferramenta educativa”.
Aliás, podemos, sim, fazer dos Zoológicos, ferramentas extremamente educativas se mudarmos a análise e a perspectiva.
Analisando sob a ótica da Ética Biocêntrica, podemos enumerar algumas falácias que são repetidas como mantras a respeito dos animais confinados.
Vamos a algumas delas:
– “O Zoológico é importante porque nós devemos conhecer as espécies para preservar/respeitar”.
Essa concepção traz embutida a desculpa de que só é possível preservar uma espécie a partir do momento que a conhecemos. Se a concepção biocêntrica predomina, o simples fato de o animal existir, já é um pressuposto que justificaria o respeito por ele. E só. Eu não conheço nenhum africano, por exemplo, mas não preciso o fazer para só depois respeitá-lo. Nunca conheci um urso polar, um tigre de bengala, uma perereca amazônica ou uma orca. Mas o fato de não vê-los ao vivo, não me impede de respeitá-los pela sua essência.
– “O Zoológico é imprescindível para estudarmos o comportamento dos animais”.
Só se for para estudar neuroses de cativeiro. Qualquer pessoa com noções básicas de Biologia sabe que o comportamento de animais em cativeiro não é o mesmo que o animal apresentaria no seu meio natural. Tenho muito respeito por estudos comportamentais. Mas por aqueles que são feitos no habitat natural do animal. Esse argumento não sustenta a existência desse tipo de Zoológico.
– “O Zoológico é importante para a reprodução e para salvar as espécies”.
Primeiro: a maioria dos animais reproduzidos em cativeiro é reproduzida para esse fim: permanecer em cativeiro. Não para ter devolvido o que lhe foi negado desde as gerações anteriores: sua liberdade. Há, entre os Zoológicos, uma espécie de escambo de espécies, onde os animais são intercambiados. Faltou uma girafa no Zoológico “x”? Já está nascendo uma no Zoológico “y”. Será separada de sua mãe e destinada ao Zoológico “x” como animal de exposição.
Segundo: Privado da convivência com seus iguais e de todas as interações que lhe são possíveis em seu meio natural, ele não é mais do que a sombra dos seus ancestrais.
– “Mas os animais que nasceram no Zoo não sofrem porque não conhecem outra vida”.
Será que o fato desse animal ter nascido em cativeiro nos dá o direito de usurpar sua liberdade mais uma vez e condená-lo a uma vida miserável, privando-o da sua verdadeira liberdade?
Se houver uma “visita ao zoológico”, com propósitos educativos, que sejam feitas pelo menos, as seguintes perguntas e investigações com os alunos: qual o habitat natural desses animais? Quais os hábitos desses animais em seu meio natural? Geralmente são: Nadar, correr, voar quilômetros por dia, procurar comida, defender seu território, interagir com outras espécies e com seus iguais. E em cativeiro? Quais as mudanças percebidas? Quais os impactos nefastos nos seus hábitos? Quais as consequências? Um pequeníssimo exemplo, entre tantos que presenciei: um leão marinho em seu habitat natural viaja centenas de quilômetros por dia. Em cativeiro, é condenado a viver em um pequeno tanque, onde passa o dia circunscrevendo voltas como que para escapar da escravidão sem fim. Sem falar na obesidade e outros transtornos de comportamento como as já mencionadas neuroses de cativeiro. Isso nos reporta à falácia seguinte:
– “Aqui no Zoológico, fazemos o enriquecimento ambiental”
Esse novo modismo nos Zoos (proveniente de um modelo americano) traz em sua proposta, a introdução de diferentes estímulos no cativeiro para que animais não desenvolvam comportamentos repetitivos e neuróticos como automutilação, coprofagia e etc. Certamente, estímulos são melhores que a estagnação a que esses animais são condenados. Mas deve-se sempre questionar: a reabilitação e a devolução da liberdade que lhes foi negada, não seria infinitamente melhor? O tão prestigiado enriquecimento ambiental não seria mais um engodo para justificar a perpetuação do cativeiro e de interesses escusos?
– “Hoje não existem mais jaulas nos zoológicos”.
Ouvi diversas vezes essa frase dos monitores que nos acompanharam. Em vários lugares. Basta uma breve visita para, novamente, a perplexidade ao comparar o dito e o constatado ser inevitável. O ápice do menosprezo à inteligência dos presentes. Percebe-se, claramente a existência de cercados mínimos de aço, alumínio, terrários, aquários, e paredes de vidro fazendo as vezes de jaulas. Mas pergunto: não seria infinitamente melhor que jaulas, aquários, terrários e afins estejam para sempre, vazios?
– “A alimentação é balanceada”.
Isso pode soar muito bem aos ouvidos antropocêntricos e ecocêntricos. Mas nos ouvidos biocêntricos e abolicionistas dói. Até fisicamente.
Uma frase que ouvi da monitora: “Os zootecnistas que trabalham no zoo e cuidam da alimentação dos animais, acham que os psitacídeos silvestres são uns chatos porque são muito exigentes, não comem qualquer coisa”. Ora, o que diriam os psitacídeos se falassem? “Chato” seria um adjetivo no mínimo elegante para qualificar quem os trancafia em um viveiro, obrigando-os a uma “loteria gastronômica”, forçada e diferente de sua alimentação natural.
E nem tecerei aqui, comentários a respeito do estresse gerado para o animal decorrente das barulhentas “visitas”. É desnecessário.
Os animais em zoológicos são a ponta do Iceberg dessa empresa.
Por trás há inúmeros fatores que formam uma cadeia de horrores para outras espécies também.
Uma delas é a existência de biotérios, terceirizados ou dentro dos próprios Zôos, que são lugares específicos onde são criados animais vivos para alimentar os animais cativos.
No Brasil são criados, para esse fim, ratos, porquinhos da índia, gansos, pintinhos e etc.
Esses seres vivos, considerados “alimento” no contexto, são manipulados, criados e administrados com a naturalidade de quem dá uma banana a um macaco.
São “coisas” como regem os preceitos do antropocentrismo e do especismo.
Os ecocêntricos dirão que é muito boa essa preocupação com a alimentação dos animais.
E que não há dilemas morais, pois na natureza existe a relação predador/presa. Sim. NA NATUREZA.
Mas, novamente a pergunta que se deve fazer é: Não existir animais enjaulados não seria infinitamente melhor?
Outro fenômeno que ocorre na maioria dos Zoológicos e confesso, para mim é novidade: a distinção entre “animais em exposição” e “animais excedentes”.
Os animais em exposição (no contexto, como se fossem agora, peças de uma galeria de arte) são aqueles que o público enxerga.
Aliás, a maioria deles é recolhida à noite, gerando mais estresse.
Os “animais em exposição” ficam nas partes divulgáveis do Zoo.
Nas áreas que estão longe dos olhos do público, existem pequenas jaulas com os “animais excedentes”, ou seja, os que sobraram da reprodução em cativeiro, ou de trocas com outros Zoológicos. Ou até mesmo os animais doentes ou que desenvolveram a (novamente ela) neurose de cativeiro.
Claro que não é conveniente que o público tenha contato com comportamentos como automutilações, coprofagia, canibalismo e outros desenvolvidos em animais privados de sua liberdade.
A visão desses comportamentos pode começar a atenuar a “cegueira conveniente” do grande público. Não é recomendável.
Nessas áreas, até são permitidas visitas técnicas. Mas são terminantemente proibidas fotos e filmagens, por razões óbvias aos olhos da Ética Biocêntrica.
Uma das monitoras, quando questionada sobre o porquê das fotos serem proibidas, disse não saber. Fiquei me questionando se a resposta foi estratégica, se foi repetida como mantra, se ela simplesmente não se importa, ou se a cegueira a acomete também.
Nas áreas dos “animais excedentes”, foi possível observar em vários zoológicos que o espaço em que os animais estão confinados é bem menor que o dos animais “em exposição”. Logo nos perguntamos: o que dizer da preocupação com o “bem estar animal”, ou com “enriquecimento ambiental” para os animais dessas áreas? Também não obtive respostas convincentes. Só evasivas. Não insisti mais porque as respostas ficaram óbvias demais.
Na esteira dos Zoológicos, seguem aquários, serpentários, oceanários, circos, projetos de “preservação” e etc. que, pela tradição antropocêntrica possuem um propósito educativo “inquestionável”.
Mas basta um breve passeio, com esse olhar biocêntrico, diferente do que nos foi imposto a acreditar a vida toda, para que o apelo silencioso e profundo de cada animal se faça presente e toque fundo nossa alma toda vez que visitarmos um Zoológico ou algo semelhante.
Essas mudanças de perspectiva, segundo Arthur Conan Doyle, equivalem a uma conversão religiosa: nada mais será visto da mesma maneira que era antes.
Mesmo com todas essas “justificativas”, que sob minha perspectiva, não passam de falácias, ainda acredito que o “simples” fato de um animal ter sua liberdade restringida, impedida, sequestrada para a concepção medieval de satisfazer as curiosidades e prazeres humanos, é a base do meu repúdio a esse tipo de exploração, sem mais considerações.
Mas a esperança se renovou quando vi a reação da maioria dos meus alunos, acadêmicos de Licenciatura em Ciências Biológicas, durante a visita.
Quando ouvi, em cada comentário a indignação, a revolta e a preocupação de fazer uma abordagem ambiental realmente crítica na escola.
Quando vi em cada rosto a angústia pelos animais e a cegueira se dissipando, pensei: é um trabalho que vale a pena.
Pois não deixo de mencionar em minhas aulas a importância de se olhar o outro lado. Por isso acredito na chamada Educação Ambiental Biocêntrica. E libertária.
Com as pessoas livres para optar pelo modelo de Ética que pautará sua passagem pela Terra. E essa escolha, meus alunos fizeram por si. Não foi imposta.
Em sua formatura, não farão de seu Juramento, outra falácia: “Juro, pela minha fé e pela minha honra e de acordo com os princípios éticos do Biólogo, exercer as minhas atividades profissionais com honestidade, em defesa da vida, estimulando o desenvolvimento científico, tecnológico e humanístico com justiça e paz”. (enunciado regulamentado pelo Conselho Federal de Biologia – Decreto nº 88.438, de 28 de junho de 1983).
“Defesa da vida” e “justiça e paz” entende-se, para todas as espécies.
Enquanto houver zoológicos, aquários, serpentários do tipo “vitrine”, espero que existam educadores como meus alunos, (que ainda não se formaram, mas já são biólogos de coração), capazes de fazerem com seus alunos, excursões a esses verdadeiros infernos (para os animais), capazes de realizar essas visitas com vistas a ação, capazes de conduzir uma discussão sob outra ótica, sob outra ética.
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*Marcela Teixeira Godoy, Bióloga e Professora Universitária.
Ponta Grossa, 01 de Dezembro de 2010.
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Fonte – http://www.institutoninarosa.org.br/textos/362-passio-zoologico
Por que nunca visitar um zoológico
21 de junho de 2013 às 6:00 – Por Danielle Bohnen (da Redação da ANDA)
Informações da ONG espanhola IgualdadAnimal.org
Os zoológicos são prisões onde vivem encarcerados milhares de animais ao desfrute daqueles que vão visitá-los.
Nessas prisões, com a ilusão de serem livres, há todos os tipos de animais expostos como se fossem obras de arte em um museu.
Uma visita a qualquer zoológico é suficiente para darmos conta de que a liberdade não existe.
As jaulas, gaiolas e outros espaços mais ou menos reduzidos são as “casas” onde são obrigados a viver presos muitos animais, longe de seu habitat natural e muito longe de conhecerem uma vida satisfatória. As informações são da ONG Igualdad Animal.
Animais como leões, tigres, cervos, elefantes, etc, que normalmente percorrem longas distâncias em um curto período de tempo procurando por comida e que necessitam do contato direto com outros animais como eles, passam os dias entediados e sozinhos ou com não mais do que um companheiro de sua espécie. Suas ações “habituais” são reguladas nos zoos e eliminadas com regimes de alimentação e acasalamento. O dia a dia nos zoos é monótono e repetitivo. Na maioria dos casos não existe nenhum tipo de privacidade nem estímulo e, por isso – como ocorreria conosco – os animais têm um grande sofrimento físico e emocional. Esse padecimento devido à falta de liberdade é algo tão evidente que em todos os zoos, se você observar com um pouco mais de atenção, vai perceber animais com transtornos psicológicos devido ao estresse e a ansiedade que viver enjaulados causa neles. Muitos animais manifestam comportamentos estereotipados, ou seja, repetem monotonamente o mesmo padrão de comportamento e/ou movimentos.
Nascidos livres ou nascidos escravos
Muita gente considera que é mais aceitável sequestrar um animal que vive em seu habitat natural para enjaulá-lo em um zoo do que enjaular a vida toda um animal que nasceu em cativeiro, ou vice-versa. Porém, o certo é que o sofrimento ao que são submetidos pela falta de liberdade não pode ser justificado em função do lugar onde nasceu. Os que nasceram em liberdade terão que sofrer a perda de sua família, o transporte angustioso até o zoo, a confusão de não entender o que aconteceu, etc. Já aqueles que nasceram em cativeiro, igualmente àqueles que nasceram livres, sofrerão por toda sua vida não poder vivê-la de acordo com sua natureza, necessidade e como eles próprios o decidam.
Fins educativos?
Há quem diga que os zoos são locais para fins educativos, ou seja, que ensinam a seus visitantes os diferentes comportamentos dos animais, influenciando os humanos a respeitá-los, mas a verdade é que, o que se aprende em um zoo, é que é aceitável privar um animal de sua liberdade para nosso benefício. Independentemente que os zoos sejam locais onde se possa aprender mais ou menos sobre o comportamento dos animais, sua existência é inaceitável. Privar alguém de liberdade e ocasionar seu sofrimento não pode ser justificável em nenhum caso com a desculpa de que nós aprendemos alguma coisa com isso. A muitos de nós, provavelmente, interessa como vivem e se relacionam seres humanos de outras culturas e sociedades, mas jamais aprovaríamos que pessoas fossem privadas de liberdade para facilitar nossa aprendizagem. Os animais, como seres com interesses próprios, merecem ser respeitados da mesma forma.
Preservar espécies condenando indivíduos
Outro argumento encontrado por quem defende a existência dos zoos, é que estes cumprem uma função conservacionista, em outras palavras, nesses locais são criados, acasalados e enjaulados animais que se encontram em perigo de extinção para que possamos conhecê-los. Assim, há quem defende os zoos como locais de preservação de determinadas espécies, para manter a sua existência devido ao interesse que temos nós, os humanos, em desfrutar de sua existência. Mas a verdade é que o importante não é o desaparecimento de uma determinada espécie e sim a morte e o sofrimento desses seres que a conformam. Uma espécie não sofre um desaparecimento, quem sofrem são cada um dos que formam parte dela, e por isso, a existência de um determinado grupo jamais justifica a escravidão de seus indivíduos.
Outras vítimas
Os animais que são expostos nos zoos não são os únicos que padecem devido à existência deles… coelhos, ratos, pintinhos e outros animais são criados e assassinados para servir de alimento aos animais expostos. Além disso, alguns dos animais que são expostos acabam não atraindo tantos os visitante e por isso muitos são assassinados ou vendidos. Cervos, leões, tigres e outros animais que ficam velhos (deixando de ser tão atrativos como quando são jovens), adoecem ou são vendidos a caçadores que pagam pelo privilégio de mata-los em suas reservas de caça privadas. Outros animais que “sobram” também são vendidos a circos e zoos menores ou com menor reputação.
Além dos zoológicos
Se você é uma pessoa interessada em aprender a respeito dos animais (não podemos esquecer que os humanos também são animais) há muitas coisas que você pode fazer para conhecê-los e inclusive para ajudá-los.
Em primeiro lugar, não vá ao zoológico nem a lugares onde os animais são expostos e privados de liberdade.
Circos, aquários, golfinários etc, são todas diferentes caras da mesma moeda: a exploração animal.
Você pode aprender muito sobre os animais visitando páginas na internet, com documentários de vídeo, em livros e enciclopédias, etc.
Mas, talvez, o melhor para isso é que aprendamos a respeitá-los e a reconhecer que, mesmo que sejamos muito diferentes em algumas coisas, no fundo (a capacidade para sofrer e desfrutar de nossas vidas) somos iguais.
Você também pode ajudar os animais fazendo com que outras pessoas também deixem de visitar esses tipos de locais, falando com seus amigos e familiares sobre o porquê não devem visitar os zoos, distribuindo folhetos ou outras informações sobre especismo, ajudando ONGs a conquistar seus objetivos em prol dos animais etc.
Há muitas formas de ajudar os animais e de fazer que nenhum deles acabe sua vida em um zoo.
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Para mais informações sobre zoológicos, visite o website da ONG Igualdad Animal sobre suas pesquisas de zoológicos espanhóis:
http://vidasenjauladas.org
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Fonte: ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
http://www.anda.jor.br/21/06/2013/por-que-nunca-visitar-um-zoologico
Zoo-ilógico
Nina Rosa Jacob*
O lógico seria mostrar os animais como eles são; seu comportamento, sua vida em família, seus hábitos, sua alimentação, seus relacionamentos, enfim: animais de verdade. Em liberdade.
Nos zoológicos, vemos um arremedo triste de animais deprimidos e solitários, expostos à curiosidade humana, sem entender o que estão fazendo ali.
Quem visita um zoológico com a intenção de conhecer os animais que lá estão, e pensa que está vendo um leão, um elefante, está enganado, está iludido. Aquele “elefante” não é realmente um elefante. Ele é um ser que já perdeu o espírito de sua espécie, que fica andando para lá e para cá, aborrecido, sozinho, sem saber por que está preso ali, uma vida inteira!!!
Na natureza, anda em média 40 km por dia, é gregário, vive em família, busca seu alimento para sobrevivência, refresca sua pele nos riachos, brinca, interage com familiares, vive vida de elefante. De verdade.
Sempre penso que os zoológicos deveriam ser virtuais: tecnologia do século XXI, com sons e imagens em 3ª (ou 4ª) dimensão, imagens de animais verdadeiros, como eles são; como vivem, como conversam, como interagem, em seus habitats, vivendo sua vida natural… isso enquanto há tempo, porque cada vez temos menos ambientes naturais, no nosso planeta.
Um zoolólgico ético, sem animais aprisionados, sem comércio de animais, sem toda a crueldade e violência que envolvem capturas, privação de liberdade, transportes, transferências. Sem solidão involuntária, sem sofrimento imposto, sem depressão provocada, sem ilusão.
Será preciso ter sofrido na própria pele o sequestro, os maus-tratos, o encarceramento e a opressão para se pôr no lugar do outro?
*Nina Rosa Jacob é ativista em defesa dos direitos dos animais, vegana, fundadora e presidente do “Instituto Nina Rosa-Projetos por Amor à Vida” www.institutoninarosa.org.br , palestrante, produtora de vídeos, editora de livros pela valorização da vida animal e colunista ANDA www.anda.jor.br.
Fonte – http://www.floraisecia.com.br/detalhe_artigo.php?id_artigo=598
Zoo…lógico ou ilógico?
Por Vininha F. Carvalho, Janaína Rios, Sandra Maria Martinello, Barbara Bruzzo
Imagine-se num belo dia, alienígenas viessem visitar a terra e, por acharem os humanos uma espécie diferente e interessante,você tivesse sido escolhido para servir de amostra da raça humana em um planeta distante!
E se na captura, eles usassem de violência e matassem seus familiares que se aproximassem para defendê-lo, ou arrancassem você, ainda bebê do colo de sua mamãe e o confinassem eternamente em uma jaula, longe da terra e de outros humanos, para sempre!
Pois bem essa é a lógica do zoológico.
Aquilo que não tem nada a ver com lazer ou cultura e sim mais uma demonstração do autoritarismo e da prepotência humana que acha que tem o direito de enjaular e mostrar suas conquistas e soberania.
Mostrando à sociedade de forma antididática, uma irrealidade da vida selvagem: animais confinados, fora do seu habitat, sem as características comportamentais inerentes ao seu ambiente natural e vulneráveis à ação humana de vandalismo.
O Brasil possui o maior acervo de animais da América Latina. Ressalva-se que apenas 37,5% do Zoológicos brasileiros são licenciados pelo Ibama e oferecem estrutura mínima de abrigo para os animais. O presidente da Sociedade de Zoológicos do Brasil, Raul Gonzaléz, afirma que cerca de 10% destes zoológicos deveriam ser fechados.
Recentemente , o Zoológico de São Paulo , que enfrentou uma crise institucional em 2001, quando a direção atual , ao assumir o comando da entidade, frustou a idéia de criação de um parque temático, teve 73 animais mortos por envenenamento.
Com interesses contrariados e lucros reduzidos, algumas pessoas puseram em prática um cuidadoso plano de vingança.
É nessa direção que se concentram quase todos os indícios coletados até agora pela Polícia Civil.
O inquérito que apura o caso já tem mil páginas e completou três meses no final da primeira quinzena de maio.
Não havendo provas para acusar formalmente os suspeitos , teme-se que não haja condenação, mediante dos olhos complacentes da sociedade.
Durante o período de investigação , quase todos os funcionários operacionais do setor de mamíferos e de alimentação que foram ouvidos se negaram a colaborar. A omissão poderá levar a impunidade.
E, esta realidade exposta em nosso país, demonstra que por trás destas mortes existem muito mais do que mentes doentias, existe o descaso das pessoas para com os animais.
É profundamente lamentável a falta de punição pela morte destes indefesos animais.
Que isto nos sirva de reflexão para as seguintes questões:
1) Observar o sofrimento de animais aprisionados representa realmente uma atividade de lazer e entretenimento?
2) Animais confinados fornecem dados fundamentais e concretos para a pesquisa?
3) Nós, humanos, temos o direito de privar da liberdade e vulnerabilizar outros seres em função dos nossos meros interesses?
Relatoras: Vininha F.Carvalho (SP), Janaína Rios (BA)
Colaboradoras: Sandra Maria Martinello (SP), Barbara Bruzzo (SP)
28 de maio de 2004
Fonte – http://www.revistaecotour.com.br/novo/home/default.asp?tipo=noticia&id=629
Girafas, urubus e outros bichos
Maria de Nazareth Agra Hassen*
Mudanças concretas que devem ser vistas também como simbólicas.
O cenário é sempre movimentado. No campo de defesa dos direitos animais, mal sai de cena uma forma brutal de exploração, rapidamente entra outra. São Paulo assistiu, impactada, à instalação de artista plástico que levou para dentro da 26ª Bienal três urubus, que pretendia lá manter até dezembro. O impacto se deveu menos à inusitada concepção de “arte” e mais à crueldade desprovida de senso moral ou estético impetrada contra inocentes aves, transportadas para ambiente artificial e altamente estressante.
Por uma razão assim, isto é, uma falta de razão, a girafa Doroteia veio a morrer no zoológico de Sapucaia na recente entrada da primavera. Primeiro, morreu sua companheira Fifi; a seguir, veio a depressão que resultou em apatia e em um problema cardiorrespiratório. Uma girafa pode ultrapassar os vinte e cinco anos de idade, mas a Dorotéia se foi aos quinze.
Escravos humanos que conheceram o sentimento de melancolia, tristeza e banzo nos diferentes períodos de escravidão da história humana entenderiam sem maior esforço por que os animais morrem quando submetidos a situações prolongadas de desesperança. A capacidade de senciência os iguala a nós no que diz respeito ao mundo das sensações e dos sentimentos, e deve cada vez mais lhes garantir o direito de escolha.
Nesta semana, depois de burlar os aparelhos censores da Bienal portando algemas nos seus pertences, ativistas paulistas se ataram a corrimões da Exposição e dali protestaram até que o IBAMA os ouvisse e desse um prazo para o artista devolver os urubus ao ambiente de origem.
Defensores dos animais se mobilizam nesse momento no Rio Grande do Sul para que a Fundação Zoobotânica não “importe” novas girafas para substituir a que morreu de tristeza. Eles sabem que as crianças aprendem mais sobre a natureza ao respeitar seus direitos do que com a experiência de ver uma girafa definhando e portando o olhar meigo e triste, que busca, no espaço vazio entre seu olho e o objeto mais próximo, alguma cena do passado junto à sua família original, lá nos seus pagos.
Há sempre um quê de desproporção e incompletude nas causas pontuais que abraçamos, mas elas valem pelo conteúdo simbólico e educativo. Centenas de animais definham nas lojas e agropecuárias aguardando, como se mercadorias fossem, por um comprador que na sua boa fé alimenta tal comércio, milhares tentam sobreviver emocional e fisicamente nas ruas das cidades, milhares seguem puxando carroças enquanto a lei municipal não chega ao seu prazo-limite, ao fim do qual seu destino é incerto, e um número impensável segue prensado nas fazendas produtoras, transportado em caminhões-morgue até matadouros, os quais, como disse Paul McCartney, se tivessem paredes de vidro, tornariam a todos vegetarianos. A sensibilidade contemporânea, a mesma que não há de conceber aves como forma de arte, já não aceita a morte de seres inocentes para seus prazeres. É o fato de toda a matança acontecer muito longe dos nossos olhos que garante que esse comércio baseado na usurpação do direito dos animais de ser e de viver se prolongue tanto.
A luta pela libertação dos urubus e a luta pela não importação de novas girafas são válidas para que pensemos não apenas nos três urubus e nas três girafas, mas em todos os animais que, como nós, devem ter direito a escolher e, sobretudo, a escolher a liberdade.
*Maria de Nazareth Agra Hassen – Graduada em Filosofia, mestre em Antropologia Social e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atualmente é pesquisadora no Grupo Arte e Fotografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora e professora no Centro Universitário Ritter dos Reis, onde leciona antropologia e filosofia nos cursos de Direito e Pedagogia. Recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura, categoria Ensaio de Humanidades (2000) pelo livro de sua dissertação, O Trabalho e os Dias: ensaio antropológico sobre trabalho, crime e prisão. Coordena a *Coleção Filosofinhos*, tendo escrito os volumes Sócrates, Platão e Descartes (Prêmio Os Correios e o Sul, 2003) e é uma das autoras de *Aqui dentro há um longe imenso*, novela juvenil.
Fonte – http://www.gaepoa.org/site/articles/82-girafas-urubus-e-outros-bichos
Mais uma vez, o zoológico…
Luiz Fernando Leal Padulla – 10-01-2013
A notícia “Zoológico é pioneiro na reprodução de pinguins no País”, que retrata o sucesso do zoológico de Bauru na reprodução dos pinguins em cativeiro é, no mínimo, intrigante.
O pioneirismo deste zoológico e a conservação dos pinguins, relatados com pompas pelo próprio diretor do local, Luiz Pires, nos fazem a constante indagação que carece de resposta: PARA QUE ISSO?
Mais uma vez faço a pergunta: há algum projeto de reintrodução dessas espécies no habitat natural?
Qual a finalidade de se abarrotar esses zoológicos – que são ambientes inadequados, inóspitos para a vivência de qualquer ser vivo! – com novos indivíduos?
E mais: eles ficarão junto de seus pais, ou serão usados como “moedas” de troca deste TRÁFICO LEGALIZADO DE ANIMAIS?
Além de absurdas, as colocações são arrogantes.
O filhote, da espécie Magalhães, é característico de águas temperadas dos Trópicos e habita as zonas costeiras da Patagônia e das Ilhas Malvinas.
Nesses locais os termômetros registram temperatura de ZEOR grau Celsius durante o inverno ficando desconfortável aos animais que migram para outros locais.
Em Bauru, os sete exemplares da espécie vivem em uma câmara climatizada a 16 graus Celsius! (…).
Afirma-se que as condições proporcionadas pelo zoológico são melhores do que as que eles encontram na natureza.
Talvez o que não saibam – ou não queiram admitir – é que essas condições de temperatura e migração são essenciais para a manutenção ecológica dos ambientes, e faz parte de toda a seleção natural da espécie – um processo que há anos a natureza se incumbe de realizar.
É fundamental que os pinguins migrem para aprender a sobreviver, a serem pinguins.
Coisa que eles jamais serão em um diminuto tanque com água do zoológico.
Retirar esses animais, mantendo-os em caixas climatizadas, enquanto deveriam estar nadando e vivendo em milhares de quilômetros de mar aberto, é UM CRIME que deveria ser passível de pena.
Mas, infelizmente, em mais esse exemplo, os mais de 800 animais que sobrevivem nesse CENTRO DE TORTURA não tem opção.
O fluxo de dinheiro, movidos pelos 180 mil cúmplices que prestigiam essa barbárie anualmente, fala sempre mais alto.
É uma guerra desigual, entre a razão e os cifrões, mas que deve ser lutada.
Se você também não concorda com os absurdos que os zoológicos fazem com esses seres inocentes, vamos juntos dizer NÃO AOS ZOOLÓGICOS.
Não prestigie esses centros de tortura.
Fale NÃO aos abusos contra os animais.
Cada uma fazendo sua parte, o retorno será maior.
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Fonte – http://www.anda.jor.br/10/01/2013/mais-uma-vez-o-zoologico
Zoológico é Prisão de Animais
Ivan Santos, Jornalista – 15/04/2013
Após tantas mudanças ocorridas nos últimos anos na sociedade humana entendemos que chegou a hora de discutir o fim dos “jardins zoológicos”.
Não é mais preciso enjaular animais para mostrá-los às pessoas interessadas em vê-los de perto.
Na verdade, os zoológicos são recintos medievais nos quais os animais retirados do reino onde viviam em liberdade são condenados à prisão perpétua.
A sociedade moderna pode muito bem exigir que os carcereiros de animais os libertem e os devolvam ao ambiente natural onde viviam.
Esta é apenas uma proposição para ser discutida por especialistas: biólogos, cientistas, naturalistas, ambientalistas e cidadãos livres.
Uma recente informação da Prefeitura de Uberlândia apareceu na mídia com o seguinte título: “Zoológico do Parque do Sabiá passa por revitalização”.
Revitalização para quê?
Para aprisionar mais animais?
No mundo não há mais lugar para condenar animais livres à prisão perpétua só para que algum humano curioso possa curti-los.
A prefeitura anunciou que construirá no Parque do Sabiá um recinto para expor animais empalhados.
Isto é prática de exibição medieval.
Hoje, com apoio da moderna tecnologia, é possível ver leões, tigres, rinocerontes, girafas e outros animais que vivem fora do reino animal do Brasil movimentando-se livremente em ambiente natural.
Para que as crianças conheçam animais selvagens não é preciso aprisioná-los em jaulas.
Está na hora de a sociedade civilizada mover uma ação conjunta para que a prefeitura local dê exemplo ao Brasil e decida fechar para sempre o Zoológico do Parque do Sabiá.
Aprisionar animais para exibição pública é prática primitiva que começou na Europa há três séculos.
Não tem mais sentido, na era do conhecimento com ciência e tecnologia.
A nota da prefeitura, sem cerimônia, proclama: “Vamos ampliar e melhorar equipamentos nos recintos dos animais e reativar o museu para exposição de animais empalhados.
Estas são algumas das primeiras ações previstas no projeto de revitalização do Zoológico do Parque do Sabiá”.
E prossegue: “Os recintos onde ficam os felinos e outras espécies de animais já receberam novos objetos para estímulo de atividades”.
Que atividade é permitida a um animal enjaulado?
Esta prática medieval precisa acabar em todas as cidades civilizadas do mundo.
Jardim zoológico é um artifício cruel como as brutais lutas do antigo Coliseu romano.
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A coluna é assinada pelo jornalista Ivan Santos e discute o processo político, econômico e social. Ela é publicada diariamente no jornal CORREIO de Uberlândia.
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Fonte – http://www.correiodeuberlandia.com.br/ivansantos/2013/04/15/zoologico-e-prisao-de-animais/
Zoológicos: crueldade travestida de diversão
Por Mariana Hoffmann (da Redação da Agência de Notícias de Direitos Animais – ANDA)
Para quem gosta de animais ir ao zoológico é um martírio.
Lá os encontramos em ambientes totalmente artificiais, expostos à curiosidade dos visitantes, em espaços exíguos, muitas vezes deprimidos ou estressados.
Embora existam zoológicos que forneçam um pouco mais de dignidade aos animais, o fato de mantê-los confinados fora de seus habitats naturais já pode ser considerado uma violência.
De acordo com o promotor de justiça Laerte Fernando Levai, “manter animais confinados atrás das grades pode, a meu ver, configurar infração ao artigo 32 da Lei 9.605/98, que define o crime de abuso e maus-tratos”.
Esta nova maneira de interpretar a lei se opõe à ideia, sustentada por muitos, de que os zoológicos exercem função educativa e protetora.
Com relação a esta última função, podemos apontar uma alternativa mais saudável para abrigar animais que, em determinadas situações, necessitem de abrigo e proteção: os santuários.
Com ambientes mais próximos do natural, são locais protegidos onde os animais podem se ressocializar com membros de sua própria espécie para, se possível, serem reinseridos em ambientes naturais.
Já em relação ao argumento de que os zoológicos exercem função educativa, o biólogo e ativista Sérgio Greif esclarece que “um animal em cativeiro não expressa seu comportamento natural”.
O que os visitantes veem são apenas sombras dos animais que eles seriam caso tivessem a oportunidade de viver livremente.
Além disso, Greif aponta que “a mensagem transmitida pelos zoológicos é que os animais são engraçadinhos e podemos mantê-los presos com o propósito de exibi-los. Essa não é minha concepção do que deveria ser a educação ambiental”.
Outra alegação comum é que os zoológicos podem funcionar como banco genético de animais que foram extintos ou estão à beira da extinção.
Para Greif tal argumento não é válido, uma vez que “de nada serve preservar alguns poucos exemplares vivendo em cativeiro se esses animais jamais serão reintroduzidos em seus antigos ambientes, até porque, com frequência, sua extinção advém da supressão desses mesmos ambientes. Além disso, a recuperação da espécie com base em alguns poucos exemplares representaria um afunilamento genético. Se há realmente uma preocupação com a preservação das espécies, deveriam ser preservados seus ambientes naturais”.
A vida no zoológico é tão artificial que muitos animais apresentam distúrbios de comportamento e têm seu tempo de vida radicalmente alterado.
Um exemplo são os elefantes. O tempo de vida de um elefante africano em zoológicos europeus dura em média 16,9 anos.
Muito pouco se comparado aos 56 anos para os elefantes que morreram de causas naturais no Parque Nacional Amboseli, no Quênia.
Segundo pesquisadores, as causas passam pela falta de espaço e pequeno número de outros animais com os quais possam formar grupos.
A faceta exploratória e abusiva dos zoológicos é também um reflexo da sua história: a ideia de colecionar animais exóticos nasceu na aristocracia do século XVI como sinal de status, e pouco a pouco os “estábulos” foram democratizados para o entretenimento da burguesia.
Quando surgiram os “jardins zoológicos”, no século XX, ainda eram comuns as práticas de ensinar e domar os animais para que aumentassem o divertimento do público.
Embora tais espetáculos não existam mais, o foco dos zoológicos continua sendo os interesses humanos, em detrimento dos interesses dos animais.
22-06-2009
http://www.anda.jor.br/22/06/2009/zoologicos-crueldade-travestida-de-diversao
ZOOS x SANTUÁRIOS
04 Fevereiro 2015
Por Sérgio Greif
Li na data de ontem texto publicado pela Dra. Yara de Melo Barros (http://www.oeco.org.br/convidados/28902-zoos-x-santuarios-uma-disputa-sem-futuro-e-sem-utilidade), Presidente da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil, intitulado “Zoos x Santuários: uma disputa sem futuro e sem utilidade”, onde ela defende que zoológicos se justificam por motivos de conservação de espécies e pela possibilidade de que os visitantes possam ser sensibilizados para questões ambientais através do contato com os animais.
Na argumentação que seu texto traz, santuários de animais não se justificariam, por manterem os animais em condições inferiores àquelas dos zoológicos e por não terem propósitos conservacionistas (por focarem estes no “indivíduo” e não na espécie). De acordo com a zoóloga, o fato dos santuários não estarem abertos à visitação publica lhes cria uma aura de imunidade contra as criticas da sociedade.
Já tive a oportunidade de escrever um texto que apresenta uma crítica aos zoológicos (http://www.olharanimal.org/pensata-animal/autores/sergio-greif/2238-zoologicos) e em especial nesse texto há um titulo onde questiono “Há uma justificativa para os zoológicos?” que merece ser lido. O próprio texto da Dra Yara traz exemplos muito pobres em relação ao papel dos zoológicos na conservação, citando os exemplos infelizes da ararinha azul e do mutum-de-alagoas.
A ararinha azul é uma das aves mais raras do mundo, estando extinta em seu bioma natural, a Caatinga. A espécie realmente apenas se mantém graças à reprodução assistida em cativeiro. Curiosamente, o zoológico de São Paulo possui um casal que jamais se reproduziu. O único caso brasileiro de sucesso em sua reprodução não pertencente a um zoológico, mas a um centro de conservação chamado Criadouro NEST, localizado em Avaré, SP.
Fora isso, a maior “coleção” de espécimes pertence ao Sheik Saud bin Muhammad Al-Thani, príncipe do Qatar recentemente falecido e fundador do Al-Wabra Wildlife Preservation. No site da Al-Wabra está escrito explicitamente: “O Al Wabra Wildlife Preservation não é um zoológico, e muitas áreas são fechadas e marcadas com sinais de “proibido acesso” para os visitantes, para não perturbar os animais sensíveis. e mesmo o restante dos compartimentos são feitos principalmente para os animais e não para os visitantes. Isso torna o (Al-Wabra) um lugar único, com uma elevada taxa de sucesso na procriação de animais difíceis e sensíveis. Os mais de 2500 animais, pertencentes a mais de uma centena de espécies diferentes, desfrutam o mais atualizado conhecimento tácito para seu conforto e bem estar. Isso inclui excelentes cuidados veterinários, laboratórios, cozinhas para preparação de alimentos, viveiros para órfãos, o melhor em alimentos naturais e importados, ar condicionado, chuva artificial e envolvimento em programas de reprodução internacional.” (http://awwp.alwabra.com/).
Iniciado como uma coleção particular de animais raros, o centro não é nem jamais foi um zoológico, mas sim o que em nossa legislação se classificaria como um “Criadouro Científico da Fauna Silvestre para fins de Conservação” (embora nesse caso não se trate de fauna silvestre do Qatar). O próprio site deixa claro que “A fazenda não está aberta ao público”.
O que podemos entender disso é que o príncipe Al-Thani, que já conseguiu obter o nascimento de 37 filhotes de ararinha azul em cativeiro, entende como importante para o sucesso da reprodução e, portanto, conservação, que os espécimes estejam distantes da visitação pública. Não são, portanto, os zoológicos que estão salvando a ararinha azul da extinção.
Igualmente, o Mutum-das-Alagoas foi salvo da extinção não por iniciativa dos zoológicos, mas por iniciativa de um criador particular chamado Pedro Mário Nardelli e, posteriormente, pela Fundação Crax e o Criadouro Científico e Cultural Poços de Calda, que de acordo com o “Plano de Ação Nacional para a Conservação do Mutum-de-Alagoas” (ICMBio/ MMA, 2008), deveria transferir alguns indivíduos para evitar perdas da população por epidemias. Alguns dos candidatos a receber exemplares seria a Central Elétrica de São Paulo em Paraibuna, que realmente possui um criadouro de aves e, infelizmente, alguns zoológicos.
Não é de hoje que os zoológicos clamam um papel que não lhes cabe. Tomemos como exemplo a preservação do Mutum-do-Sudeste, parente próximo do Mutum-de-Alagoas. A recuperação de suas populações envolveu pesquisadores? Sim, pesquisadores da USP e da UFMG; Houve envolvimento de órgãos ambientais? Sim, o ICMBio se envolveu, por meio de suas Unidades de Conservação; Houve envolvimento de ONG´s? Sim, a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil – SAVE Brasil, apoiada pela BirdLife International estavam envolvidas no projeto; participaram o Instituto BioAtlântica – Ibio, a Reserva Ecológica de Guapiaçu – REGUA e a World Pheasant Association – WPA; Estava também participando a iniciativa privada, por meio da Vale (representada pela CENIBRA, sua subsidiária florestal e da Reserva Natural Vale – RNV) e da Michelin, por meio da Reserva Ecológica Michelin – REM. Onde estavam os zoológicos que clamam existir para conservar? E este é apenas um exemplo . . .
Lendo o texto do “Plano de Ação Nacional para a Conservação do Mutum-de-Alagoas” (ICMBio/ MMA, 2008) vemos que “Os caminhos para trazer o mutum-de-alagoas de volta às suas florestas são longos e demandam grandes esforços de pesquisadores, ONGs, órgãos ambientais, usineiros e da sociedade civil. A recuperação das florestas, sua proteção contra caçadores e madeireiros e a recuperação dos ambientes são os primeiros passos a serem dados in situ, enquanto a criação maciça destas aves em cativeiro é fundamental para garantir indivíduos viáveis para a reintrodução.” Zoológicos não foram citados.
Vemos, portanto, que em ambos os casos citados no texto da Dra Yara, o caminho a seguir para a conservação de espécies criticas já extintas na natureza é a preservação/recuperação de seus biomas naturais e a criação maçal de animais em cativeiro. Como poderá o zoológico, mantendo um ou dois exemplares de cada espécie para satisfazer a curiosidade do público, contribuir para aumentar significativamente esses números? Como poderão essas entidades, voltadas à visitação pública mais do que qualquer coisa, ter sucesso na reprodução de espécies sensíveis cuja reprodução é difícil e prejudicada pela própria visitação? Ouso dizer que cada exemplar de espécie em vias de extinção cativo em um zoológico é um exemplar a menos a se reproduzir e salvar a espécie. Nesse sentido, criadouros conservacionistas são muito mais efetivos.
No mais, de forma mais pragmática, quantos milhões em recurso são direcionados à reprodução de espécies simpáticas e exuberantes quando a taxa de extinção anual de espécies é da ordem de mais de 10.000 espécies ao ano? Por esse ponto de vista, a chave para a preservação das espécies não se encontra nem nos zoológicos nem nos santuários de animais, mas especificamente na conservação de seus ambientes naturais. Ainda que consigamos aumentar significativamente os números de ararinhas azuis e mutuns-das-alagoas em cativeiro, resta-nos o problema de não haver onde soltá-los. Temos menos de 1% da caatinga e menos de 2% da Mata Atlântica de Pernambuco e Alagoas preservadas.
Trata-se de um questionamento relevante. Preservar os biomas não é apenas uma das opções que temos para a conservação das espécies em vias de extinção; os programas de reprodução assistida apresentam resultados emergenciais de conservação de espécies que já não apresentam populações naturais viáveis, mas se não houver áreas de soltura para esses animais, todo o esforço é em vão.
Com relação ao papel dos zoológicos na educação ambiental, creio que já explorei o assunto em meu texto supracitado (http://www.olharanimal.org/pensata-animal/autores/sergio-greif/2238-zoologicos). Uma visita ao zoológico pode proporcionar prazer e talvez satisfazer alguma curiosidades, mas não ensina as pessoas a respeitar animais. Ensina-as que animais podem ser enjaulados ou dispostos para propósitos humanos.
Então se não se prestam a conservar espécies nem a educar pessoas em relação aos animais, zoológicos são tão somente locais que mantém animais em cativeiro para visitação pública. Abro aqui, em tempo, um parêntese para refutar mais uma critica da Dra. Yara: Questionar os zoológicos não é uma critica contra “vilões e porcos capitalistas”. Essa retórica anti-capitalista irrefletida e infantil não condiz com uma defesa séria dos direitos animais. Não se trata de cobrar ou não a entrada ao zoológico, mas antes, termos ou não o direito de manter cativos, e perpetuar esse cativeiro, aos animais, apenas porque podemos fazê-lo.
Santuários de animais
Santuários de animais também são, para muitos efeitos, empreendimentos onde animais são mantidos cativos, no entanto, ao contrário dos zoológicos, não há aí uma intenção de manter o cativeiro indefinidamente. Zoológicos existem com foco no publico visitante, santuários existem com foco nos animais. Não se trata, portanto, de uma “visão romântica” ou idílica, mas de uma constatação objetiva, baseada em uma comparação sensata.
Santuários existem para manter e dar assistência a animais que necessitam: animais que foram resgatados de instituições onde eram explorados, animais atropelados ou machucados, animais desalojados devido à supressão de seus ambientes naturais, animais recuperados do tráfico, etc.
Engana-se a Dra. Yara que Santuários sejam meros depósitos de animais que por estarem distantes dos olhos do público estão imunes às criticas. De fato, na legislação não existe o termo “Santuários de Animais”, por esse motivo todos esses empreendimentos são licenciados nos órgãos ambientais como Mantenedores de Fauna Silvestre, Centros de Triagem de Animais Silvestres – CETAS, Centros de Reabilitação de Animais Silvestres – CRAS ou Criadouros Científico de Fauna Silvestre para Fins de Conservação.
A denominação “Santuários” é apenas uma forma genérica de se referir ao conjunto de mantenedores e/ou procriadores de animais silvestres que não exploram animais, estando por isso os zoológicos, os criadouros comerciais, os criadouros para fins de pesquisa, os abatedouros de animais silvestres e as fazendas de caça excluídos dessa definição (também muitos mantenedores de fauna, CETAS, CRAS e criadouros conservacionistas não merecem ser considerados “Santuários de Animais”). Ao contrário do que supõe a Dra. Yara, “santuários” são licenciados pelos órgãos ambientais e sofrem fiscalizações periódicas.
Mas santuários não se limitam aos animais silvestres, muitos destes mantendo animais exóticos vitimas também da exploração pelo ser humano. Nesses casos santuários de animais não devem, de fato, reproduzir esses animais. Não faria sentido que um santuário de animais aqui no Brasil reproduzisse leões, elefantes ou orangotangos, quando esses animais sequer poderiam ser introduzidos aqui.
Novamente, perpetuar uma espécie apenas faz sentido se os indivíduos puderem algum dia ser introduzidos em suas áreas de ocorrência natural, caso contrário, o propósito do santuário deve ser o bem estar do indivíduo e não a manutenção da espécie.
Há também uma categoria de santuários que sequer necessita ser licenciada ou fiscalizada, que são os santuários que mantém animais domésticos. Elas, para todos os efeitos são fazendas, mas ao contrário de outras fazendas onde os animais são reproduzidos e explorados para diferentes finalidades, nos santuários-fazenda essas mesmas espécies são mantidas sem se reproduzir, pelo tempo de suas vidas. Eis quando se reconhece que animais são indivíduos e não números.
Há, portanto, santuários que visam a manutenção, procriação, reabilitação e reintrodução de animais, e há os que meramente se preocupam em manter vivos os indivíduos por neles reconhecer um valor inerente. E diferente dos zoológicos, muitos santuários de animais cumprem com o papel de educadores ambientais e propagadores do respeito aos animais. Não é impossível que pequenos grupos e escolas visitem determinados santuários de animais, possuindo alguns deles um centro para recepção de visitantes onde palestras e apresentações são realizadas (veja o caso do Rancho dos Gnomos http://www.ranchodosgnomos.org.br/visitas.php), bem como a proximidade com espécies menos sensíveis é permitida.
Tive, ao longo da vida, a oportunidade de conhecer muitos zoológicos e alguns santuários de animais. Dessa vivência consigo entender porque que os santuários de animais existem, vejo aí um propósito nobre, mas não entendo a razão de ser dos zoológicos, onde o que conta não é o animal enquanto indivíduo, mas quanto muito o interesse que este possa despertar nas pessoas e o estatus de sua espécie em números.
Reporto aqui um caso recorrente. Uma família adquire em um semáforo um exemplar de jabuti de 6 cm, em 1980. Em 2015 esse jabuti já terá mais de 35 anos, uns 40 cm de comprimento e provavelmente uma deformação do casco e osteomalácia resultantes de deficiência nutricional, ausência adequada de insolação e por ter passado a vida toda tentando se deslocar no piso escorregadio da área de serviço do apartamento.
A família não quer mais o animal, que poderá viver ainda mais cerca de 45 anos e procura o jardim zoológico de sua cidade. Ali eles ficam sabendo que o zoológico todos os dias recebe proposta de doação de jabutis por particulares, mas que o recinto dos jabutis foi projetado para manter 5 animais (e já possui 20). Os particulares são recomendados a doar o jabuti para uma universidade onde ele provavelmente será dissecado em uma aula de zoologia.
Outras saídas seriam a doação do animal para o ICMBio, que poderia destiná-lo a um criadouro comercial ou mesmo destiná-lo a uma área de soltura, mas lembremos que o animal foi mantido por mais de 30 anos em condições que inviabilizaram-no como reprodutor, quanto mais como animal viável a ser reintroduzido.
Um zoológico certamente aceitaria se um particular lhe oferecesse uma ave-do-paraíso trazida da Papua Nova Guiné ou um varano-malaio traficado na mala de uma viagem para a Ásia, porque são animais raros que certamente adicionariam à sua coleção. Mas jabutis e papagaios-verdadeiros são animais que não interessam mais aos zoológicos. São simplesmente recusados.
O santuário de animais, por outro lado, apenas recusará ficar com esses animais se realmente não dispuser de instalações adequadas para os mesmos. Santuários de animais, na forma ideal, são especializados em grupos específicos de animais pertencentes a algumas poucas espécies. Uma carga de 200 papagaios-verdadeiros apreendidos das mãos de traficantes de animais pela Policia seria entregue em em um santuário de animais, e não em um zoológico.
A Dra. Yara cita o caso da orangotango Sandra, libertada por Habeas Corpus do zoológico de Buenos Aires. Outro exemplo bastante infeliz. A orangotando, ao contrário do reportado no artigo da zoóloga, não seguirá para um santuário brasileiro, mas pela própria recomendação do mesmo, seguirá para o Center for Great Apes na Florida.
Trata-se de uma condição MUITO melhor de vida. Nesse santuário, ao contrário do reportado, ela não receberá feijoada, maionese e marshmallow como alimentos, mas alimentação adequada, recintos amplos e arejados e gozará a companhia de outros orangotangos. Quem tiver duvidas sobre como será a vida de Sandra em seu novo lar visite a página (http://www.centerforgreatapes.org/sanctuary/faqs/).
Mas ainda que fosse mantida no santuário brasileiro sua vida futura também seria ótima, (veja em http://www.projetogap.org.br/), para que não restem duvidas, basta uma comparação entre esses santuários e o Zoológico de São Paulo (ou qualquer outro zoológico que for).
Não resta a menor duvida de que santuários de animais são melhores, para os animais, do que zoológicos. Mas é óbvio que se deve respeitar a especialidade de cada santuário de animais. Há santuários de animais que, como afirmado acima, lidam com animais de fazenda. Um orangotango ali provavelmente não teria um recinto adequado, nem a companhia de outros de sua espécie, e demandaria um manejo distinto da rotina do santuário. Ainda assim pode-se supor que sua vida não seria inferior à vida que leva em um zoológico, onde tampouco há recintos adequados e a possibilidade de formação de bandos. Tampouco faria sentido destinar ao Santuário do GAP em Sorocaba um porco ou uma zebra, porque não é a especialidade deles.
De fato a palavra “santuário” não garante a qualidade de vida de animal algum, e por isso mesmo as instituições devem ser licenciadas e fiscalizadas. Há instituições que poderão se auto-denominar “Santuários”, mas que na verdade não o são. Há outras que agirão com o melhor das intenções e desenvolvem o melhor trabalho possível, mas contarão com verbas bastante limitadas. De toda forma sim, os santuários devem priorizar os animais, seja a quais espécies pertençam, e nesse sentido a visitação publica não tem nada a acrescentar. Animais são indivíduos e não números, são seres sencientes e não objetos para satisfazer a curiosidade humana.
A função fundamental de um Santuário é dar proteção aos animais enquanto indivíduos, por isso, é essencial que as condições da instalação, de manejo, alimentação, enriquecimento ambiental e saúde sejam respeitadas. Se os animais serão reabilitados e posteriormente reintroduzidos em áreas de soltura ou se serão reproduzidos dependerá da espécie em questão, mas certamente santuários não são locais de exposição pública de animais, pois isso contrariaria seus interesses.
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Sérgio Greif
sergio_greif@yahoo.com
Biólogo formado pela UNICAMP, mestre em Alimentos e Nutrição com tese em nutrição vegetariana pela mesma universidade, docente da MBA em Gestão Ambiental da Universidade de São Caetano do Sul, ativista pelos direitos animais, vegano desde 1998, consultor em diversas ações civis publicas e audiências públicas em defesa dos direitos animais. Co-autor do livro “A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo” e autor de “Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável”, além de diversos artigos e ensaios referentes à nutrição vegetariana, ao modo de vida vegano, aos direitos ambientais, à bioética, à experimentação animal, aos métodos substitutivos ao uso de animais na pesquisa e na educação e aos impactos da pecuária ao meio ambiente, entre outros temas. Realiza palestras nesse mesmo tema. Membro fundador da Sociedade Vegana.
(Artigo disponível em http://www.olharanimal.org/pensata-animal/autores/sergio-greif/4146-zoos-x-santuarios)
VÍDEOS
Investigação da “Igualdad Animal” num zoológico
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Vidas Enjauladas – Vídeos Investigativos
http://www.vidasenjauladas.org/
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A vida de Hipopótamos na Natureza
https://www.youtube.com/watch?v=xPndNFuqEWY
X
A vida de Hipopótamos num Zoológico
http://mais.uol.com.br/view/jinmcnm98vmk/bebe-hipopotamo-e-a-mais-nova-atracao-de-zoo-de-bh-04020D99326CDCA14326?types=A
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“Da Utilidade dos Animais” (10′)
Baseado no conto de Carlos Drummond de Andrade
http://www.youtube.com/watch?v=tC2RflxqaNU
www.youtube.com/watch?v=UAn0I6rhswM
NOTÍCIAS
sobre maus tratos a animais em zoológicos
Julho de 2016
Gorila morre de ataque cardíaco após ser sedado em zoológico do México
Junho de 2016
Zoológico de Ontário fecha após baixa visitação e denúncias de maus tratos
http://www.veggietal.com.br/zoologico-ontario-fecha/
Junho de 2016
Zoológico abandonado – Animais mortos pela fome tornam-se múmias
Agosto de 2014
Animais morrem envenenados após desratização no Orquidário de Santos,SP
Julho/2014
Elefante morre de tristeza após perder companheira
http://www.anda.jor.br/20/07/2014/elefante-entra-depressao-falece-apos-morte-companheira-zoologico
Fevereiro de 2014
Após 10 anos da morte de dezenas de animais no Zoológico de São Paulo, ninguém foi preso
http://radiobandeirantes.band.uol.com.br/conteudo.asp?ID=701547
Junho/2013
Três macacos-prego morrem no zoológico de Belo Horizonte – macho, fêmea e filhote
http://www.anda.jor.br/28/06/2013/tres-macacos-prego-morrem-no-zoologico-de-belo-horizonte-mg
Abril/2013
Zoológico é prisão de animais
http://www.correiodeuberlandia.com.br/ivansantos/2013/04/15/zoologico-e-prisao-de-animais/
Abril de 2013
Zoológico australiano fecha e animais serão transferidos
http://www.anda.jor.br/18/04/2013/shambala-fecha-e-animais-serao-transferidos
Março/2013
Morre mais um gorila no Zoológico de BH e administração nega maus tratos de animais.
http://www.itatiaia.com.br/noticia/morre-mais-um-gorila-no-zoologico-de-bh-e-administracao-nega-maus-tratos-de-animais
Morte da gorila Kifta provoca questionamentos sobre as condições do Zoológico de BH
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/03/03/interna_gerais,354259/morte-da-gorila-kifta-provoca-questionamentos-sobre-as-condicoes-do-zoologico-de-bh.shtml
Companheira de Idi Amin, gorila que veio da Inglaterra morre em BH
http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2013/03/companheira-de-idi-amin-gorila-que-veio-da-inglaterra-morre-em-bh.html
– Mortes de animais do zoológico será tema de audiência pública
http://www.adrianoventura.com.br/default.asp?noticia=1136
Novembro 2012
Recintos vazios e ar de abandono decepcionam visitante do Zoo de BH
http://www.hojeemdia.com.br/minas/recintos-vazios-e-ar-de-abandono-decepcionam-visitante-do-zoo-de-bh-1.52515
Abril /2012
Santuário RANCHO DOS GNOMOS de SP socorre e resgata os animais que sobreviveram aos maus tratos e abandono.
http://www.rbatv.com.br/default.php?pg=edicao_rba&bloco=4&id_edicao=1438
http://www.rbatv.com.br/default.php?pg=edicao_rba&bloco=5&id_edicao=1437
Março/2012
Idi Amin: uma morte anunciada
http://projetogap.org.br/pt-BR/noticias/Show/4192,idi-amin-uma-morte-anunciada
Agosto/ 2011
Id Amin – Gorila passou 27 anos solitário e triste em zoológico de Belo Horizonte
http://consciencia.blog.br/2011/08/gorila-passou-27-anos-solitario-e-triste-em-zoologico-de-belo-horizonte.html#.UftHTtK1GSp
Setembro/2011
Dez animais já morreram no zoológico de Goiânia em Setembro
Setembro/2009
Zoológicos – Goiânia já registrou 69 mortes desde janeiro. Em 2005 foram cerca de 200 vítimas em SP.
http://www.arcabrasil.org.br/noticias/0909_zoo.html
Fevereiro de 2009
Virose matou os animais do Zoológico de SP em 2004 e 2005 (?)
http://www.pea.org.br/news/noticias01.asp?noticia=911
Fevereiro de 2004
Sobe para 59 o número de animais mortos por envenenamento no Zoológico de São Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u90730.shtml
Outubro/1995
Morre em zôo de MG elefante que comeu lixo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/04/cotidiano/11.html
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BOA NOTÍCIA!
Julho de 2014
Costa Rica é o primeiro país da América Latina a encerrar seus “Jardins Zoológicos”
CRÔNICA
É Espantoso!
Nelson Motta*
Como parte dos deveres e prazeres de um avô, levei minhas netas ao Jardim Zoológico, o mesmo que me encantara na infância.
Na saída, elas estavam meio decepcionadas, e o avô deprimidíssimo.
Os grandes felinos, atração máxima, dormiam prostrados, uns na toca e outros no fundo da jaula.
Pareciam dopados, mas me disseram que os tratadores lhes antecipam o almoço para que apaguem e não se perturbem com as multidões de crianças e adultos gritando em frente ao cativeiro.
Elas querem ação, e os pobres grandes felinos só querem dormir, talvez sonhar que estão numa savana africana correndo atrás de antílopes.
O velho elefante empoeirado balançava a tromba em desalento.
O hipopótamo, talvez com vergonha, estava enfiado no seu abrigo e exibia só a traseira descomunal.
Dois pinguins tinham sido comidos, na véspera, por enormes e ferozes cães vira-latas, vindos das matas e favelas vizinhas.
Mais ferozes e malandros do que as feras enjauladas, cavaram um túnel sob a cerca e devoraram as aves.
O que há de educativo em ver bichos tristes e humilhados, expostos à visitação pública?
É uma perversão do que se vê nos espetaculares documentários da televisão, onde realmente se aprende sobre os animais e sobre nós mesmos. […]
É espantoso que, em plena era da ecologia, da sustentabilidade e da correção política, ainda existam jardins zoológicos.
São provas vivas de crueldade com os animais, deveriam ser extintos.
No Rio de Janeiro, a lei já proíbe exibir animais em circos – e é cumprida.
Um vez sugeri aos amigos do Casseta&Planeta um quadro em que animais livres e pacíficos passeavam com seus filhos por um zoológico com jaulas cheias de humanos mentirosos, gananciosos, covardes, sádicos e assassinos. O que mais divertia os filhotes dos macacos era a gaiola dos políticos ladrões.
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*Nelson Motta é jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical e letrista brasileiro.
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Fonte – http://www.nelsonmotta.com.br/cronicasemanal/id/568
HISTÓRIA
Camelos
Uma mãe e um bebê camelo estavam por ali, à toa, quando de repente o bebê camelo perguntou:
– Mãe, mãe, posso te perguntar umas coisas?
– Claro! O que está incomodando o meu filhote?
– Por quê os camelos têm corcova?
– Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar água e por isso mesmo somos conhecidos por sobreviver sem água.
– Certo, e por quê nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas?
– Filho, certamente elas são assim para permitir caminhar no deserto. Sabe, com essas pernas eu posso me movimentar pelo deserto melhor do que qualquer um! – disse a mãe, toda orgulhosa.
– Certo! Então, por que nossos cílios são tão longos? De vez em quando eles atrapalham minha visão.
– Meu filho! Esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos. Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto! – disse a mãe com orgulho nos olhos.
– Tá. Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto, as pernas para caminhar através do deserto e os cílios são para proteger meus olhos das areias e do vento do deserto. Então, o quê estamos fazendo aqui no Zoológico?
—–
Comentário
(E-mail recebido em 02-05-2005 em resposta ao texto “Camelos”.)
Zoológicos, além de prestar um desserviço à infância, aviltam os animais.
São cruéis e representam uma distorção de comportamento, tanto no que se refere ao comportamento dos animais humanos, quanto ao dos não humanos.
Se na natureza um predador caça um animal, o faz no habitat natural de ambos, onde o animal caçado tem até chance de não o ser.
No zoológico, infelizes pequenos animais são estocados e jogados nas jaulas, vivos, para alimentar outros, maiores, mas tão infelizes quanto eles.
Sabemos que a natureza se constitui de ciclos contínuos de destruição e regeneração, mas não cabe ao animal humano chamar a si a autoria desses ciclos, desfigurando-os em seus objetivos.
Um zoológico reduz a selva, a savana, enfim a natureza, a alguns metros quadrados de crueldade consentida e programada.
Zoológicos são deletérios à sociedade!
(Cláudio Cavalcanti)
CONTO
“Da Utilidade dos Animais”
(Carlos Drummond de Andrade)
Terceiro dia de aula. A professora é um amor.
Na sala, estampas coloridas mostram animais de todos os feitios.
É preciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a.
Eles têm direito à vida, como nós, e além disso são muito úteis.
Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta.
Mas não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca… Todos ajudam.
– Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?
– Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazem perucas bacanas. E a carne, dizem que é gostosa.
– Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
– Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
– Ele faz pincel, professora?
– Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer.
Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru:
– Bolsas, mala, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando da carne. Canguru é utilíssimo.
– Vivo, fessora?
– A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.
– Depois a gente come a vicunha, né fessora?
– Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer…
– A gente torna a corta? Ela não tem sossego, tadinha.
– Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem?
– A carne também é listrada?- pergunta que desencadeia riso geral.
– Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pingüum? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento – não sabem o que é? O cocô do pinguim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito da gordura do pinguim…
– A senhora disse que a gente deve respeitar.
– Claro. Mas o óleo é bom.
– Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa.
– Pois lucra. O pelo dá escovas é de ótima qualidade.
– E o castor?
– Pois quando voltar a moda do chapéu para os homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar de um bom exemplo.
– Eu, hem?
– Dos chifres do rinoceronte, Bela, você pode encomendar um vaso raro para o ‘living’ da sua casa.
Do couro da girafa Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pelos da cauda para Tereza fazer um bracelete genial.
A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não calculam. Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia! O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa.
O biguá é engraçado.
– Engraçado, como?
– Apanha peixe pra gente.
– Apanha e entrega, professora?
– Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá.
– Bobo que ele é.
– Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
– Entendi, a gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pelo, o couro e os ossos.
.
Carlos Drummond de Andrade
Texto extraído de ‘De notícias e não notícias faz-se a crônica’. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975
—
“DA UTILIDADE DOS ANIMAIS” (10min.)
Vídeo baseado no conto de Carlos Drummond de Andrade
http://www.youtube.com/watch?v=tC2RflxqaNU
Música
http://www.youtube.com/watch?v=jG3zoi1uKLU
ZOO
(Banda Karnac – música de André Abujamra e Théo Werneck)
Oi como que ce tá?
Eu não tô legal aqui nesse lugar
Oi comment allez vous?
Eu sou o gorila preso aqui no ZOO
Quanta criança meu Deus comendo cachorro-quente
Só elas entendem a dor que meu coração sente
Minha macaca se foi, minha esperança também
Vocês me olham e eu olho vocês
ZOO ZOO ZOO solta tu tu do
ZOO ZOO ZOO homem nu
Oi como que ce tá?
Eu não tô legal aqui nesse lugar
Hi how are you?
Eu sou o leão preso aqui no ZOO
Eu era o rei na floresta agora nada me resta
Vou ficar pra sempre preso aqui
Ficam me fotografando acham que estou gostando
Mas minha alma não sabe sorrir
ZOO ZOO ZOO solta tu tu do
ZOO ZOO ZOO homem nu
Oi como que ce ta?
Eu não tô legal aqui nesse lugar
Oi como que tá tu?
Eu sou uma arara presa aqui no ZOO
Minha plumagem é linda mas por dentro estou cinza
Quero voltar voando pra casa
Nem todo bicho é preso
E de inveja quase morro
Por que não prendem o gato e o cachorro?
ZOO ZOO ZOO solta tu tu do
ZOO ZOO ZOO homem nu
Tira os bichos do ZOO, tira os bichos do ZOO
Põe o homem na jaula, põe o homem nu.
Tira os bichos do ZOO, tira os bichos do ZOO
Põe o homem na jaula, põe o homem nu.
Tira os bichos do ZOO, tira os bichos do ZOO
Põe o homem na jaula, põe o homem nu.
Veja também:
http://www.vidasenjauladas.org/
–
LUGAR DE ANIMAL É EM SEU HABITAT NATURAL.
GatoVerde em defesa dos Direitos Animais
–